top of page
Search

A "via" simbólica - aprenda a ver a vida com novos olhos!

  • Writer: João Gabriel Simões
    João Gabriel Simões
  • May 26, 2019
  • 5 min read

Updated: Jan 26, 2023

Hoje em dia, vivemos em meio a uma ignorância simbólica, talvez, nunca antes vista. Em geral, o indivíduo “moderno”, o cidadão das grandes cidades, não faz ideia do significado simbólico da aliança que usa no dedo; do gesto de bater 3 vezes na madeira, quando quer alguma coisa; da cruz presente nas diversas tradições; do “quadrado” e do “círculo” na arquitetura tradicional; da “água” e do “fogo” nas mitologias, entre muitos outros símbolos que permeiam o seu dia a dia. Para o indivíduo moderno, tais símbolos e gestos são supersticiosos, pois ele não alcança aquilo que é simbolizado por esses símbolos. Confunde em sua mente, o símbolo com o simbolizado e cai no “fetichismo” (SANTOS, 1957).


Uma das “ingenuidades” mais marcantes, de muitos conquistadores europeus, era a de achar que o “homem primitivo” ( como eles o chamavam) adorava “pedras” e objetos “singulares”, por eles mesmos (fetichismo). Não entenderam que, em muitos casos, as pedras e aqueles objetos eram “símbolos” de “ideias” e processos completamente desconhecidos por eles. Logo, julgando tudo com os “pré-conceitos” de suas culturas e ignorando a “via simbólica” daqueles povos, disseminaram, pelos 4 cantos do mundo, interpretações etnocêntricas e fetichistas, que ainda hoje, permeiam o “imaginário” de muita gente.






Quando não se compreende a diferença entre “símbolo” e “simbolizado”, quando se considera tudo uma coisa só, “despenca-se” facilmente no “abismo” do fetichismo, a saber, a adoração ou veneração de objetos, os quais são atribuídos poderes especiais. Por exemplo, um indivíduo, que sendo possuidor de um “amuleto” e crente em seu poder, não faça a mínima ideia do que este objeto simbolizou e ainda simboliza, ou do papel de mediação com certas "realidades" que este símbolo permite. Mais a frente, iremos retornar a essa distinção, uma “oitava acima”, dado que, precisamos entender o que é um símbolo primeiramente.


O que um é um símbolo?


O vocábulo “símbolo” deriva do grego "symbolon". Palavra composta do sufixo "Syn", que significa "com", "conjuntamente" e de "ballein", com o sentido de “lançar", "atirar". Logo, "symbolon" significa: lançar conjuntamente, tendo também o sentido de "reunir".


Para os gregos antigos, o "symbolon" era um objeto partido em dois, que tinha suas metades conservadas por duas pessoas, as quais a utilizavam como “sinal”, para lembrar de um compromisso, uma dívida ou de um laço de amizade, de amor. Portanto, podemos dizer que o símbolo envolve a ideia de encaixe, de correspondência entre duas partes. Símbolo e simbolizado, significante e significado, referente e referido.


O símbolo tem a sua metade “concreta”, perceptível pelos nossos sentidos (referente) e a sua metade “abstrata”, “inacessível” aos nossos sentidos (referido), mas que pode ser “entrevista”, em menor ou maior extensão, a depender das nossas “capacidade”. Por exemplo, o “som” como símbolo das “ondas eletromagnéticas”, que graças a “capacidade” humana podem ser captadas por um aparelho de rádio. Essas ondas são abstratas, não podemos percebê-las pelos sentidos, ao passo que o “som” que sai do rádio é concreto, pois é percebido pelos ouvidos.


O símbolo, basicamente, expressa uma “relação” entre o “objeto presente”, por exemplo, o “som”, uma “aliança” ou uma “cruz” - que desempenha o papel de “referente” - e o “objeto ausente”, ou seja, o “referido” que é simbolizado pelo referente. Sendo assim, o “som”, a “aliança” e a “cruz” fazem referência a algo, apontam para “algo” que não está presente. E o que é esse “algo”? É um “sentido”, que pode envolver uma ideia, uma experiência mística ou estética, um “princípio”, uma “força” da natureza, “qualidades” morais etc.


Há sempre algo de “misterioso” no símbolo, pois ele contém apenas algumas “notas” do simbolizado, pelas quais, por analogia, faz referência a ele. No egito antigo, o “sol” era o símbolo de “deus” e o era, precisamente, por ter em si algumas “notas” que faziam referência a “deus”. Notas, tais como: doador da vida, dissipador da escuridão; onipresente, entre outras. Em suma, assim como o “sol” fazia referência a “deus”, o que caracteriza o símbolo é o “apontar”, o fazer referência a algo que o transcende, ou seja, o simbolizado.


Simbolismo na prática


O sol pode simbolizar “deus”, assim como, pode simbolizar uma série de outros significados. Em outras palavras, o símbolo possui poli-significabilidade. Além disso, um símbolo pode ser “simbolizado” por inúmeros outros símbolos possuindo, portanto, poli-referenciabilidade. “Deus” como “referido” do símbolo sol e o sol como “referido” de um objeto feito de porcelana em formato de sol. Em suma, quase todas as coisas podem ser símbolo de algo e, igualmente, ser o “simbolizado” de outros símbolos.


Nesse sentido, de acordo com Santos (1957, p 9):


“Toda a natureza, em sua linguagem muda, expressa-se através de símbolos, que o artista sente e vive, que o filósofo interpreta, e que o cientista traduz nas grandes leis que regem os fatos do acontecer cósmico”.

Tomemos o simbolismo da água e do fogo para aprofundar isso e nos dar uma amostra do que é a via simbólica. De acordo com os gregos, assim como no oriente, a água pode simbolizar a “matéria”, a “horizontalidade” e o “embriagamento” nas paixões e distrações. Já o fogo, por sua vez, pode ser símbolo do “espírito”, da “verticalidade” e da sabedoria.


As sereias, por exemplo, que elas faziam na Odisséia de Homero? Seduziam os marinheiros fazendo-os perder o foco e naufragar. E a “caminhada” de Jesus sob as águas, o que isso simboliza? O domínio das paixões, a “vitória” sobre a matéria. Por outro lado, O “fogo” que Prometeu, personagem da mitologia grega deu aos seres humanos, o que simboliza, senão a inteligência, o intelecto? E os dragões chineses que simbolizam o poder espiritual e a “sabedoria”. Os exemplos que podemos encontrar nos mitos, lendas, na literatura e arquitetura são abundantes e mostram um fato curioso: que independente da distância temporal e geográfica, diversas civilizações compartilharam e ainda compartilham dos mesmos símbolos.


Para complementar o que foi dito sobre a água e o fogo, tente lembrar o que acontece quando você movimenta a água dentro de um recipiente. Ela sempre assumirá a forma horizontal, mesmo que você vire o recipiente de cabeça pra baixo, não é? Da mesma forma, o fogo numa tocha, sempre seguirá a direção vertical, independente do movimento que se faça com ela. A “natureza” da água é horizontal e a “natureza” do fogo é vertical e aqui, diante de nós, temos um dos simbolismos da “Cruz”, que simboliza a união do espírito (fogo) com matéria (água), ou do “céu” com a “terra” - numa perspectiva religiosa, ou da “essência” com a “substância”, em uma filosófica.


Conclusão


Os exemplos aqui expostos estão de bom tamanho para dar um vislumbre da “via simbólica”, isto é, a atividade que busca os nexos entre símbolos e simbolizados, ao mesmo tempo em que estuda a origem, o desenvolvimento e o perecimento dos símbolos ( SANTOS, 1957).


Em síntese, pode-se dizer que a “simbólica” é a “rede” que conecta ciência, filosofia, religião e arte, de modo a colocar em relevo, os aspectos “qualitativos” e “misteriosos” da vida - tão impopulares atualmente, em razão do predomínio dos aspectos quantitativos, nas instituições de ensino, assim como no “show business”, orientados, predominantemente, por um viés cartesiano e utilitarista de produção de “subjetividades dessacralizadas” e comodidades “secas” de significado, como por exemplo, as roupas “modernas” que atendem, na maioria esmagadora dos casos, unicamente o critério da utilidade, quase inteiramente desprovidas de valor simbólico, em contraste com as vestes tradicionais japoneses, a título de exemplo (DURAND, 1979).



Por: João Gabriel Simões, Psicólogo




Refêrencias:


DOS SANTOS, Mário Ferreira.Tratado de simbólica. São Paulo: Logos LTDA, 1957.


DURAND, Gilbert. A Imaginação Simbólica. Tradução: Maria de Fátima Morna. Lisboa: Arcádia, 1979a.

 
 
 

Comments


“Aquele que olha para fora sonha. Mas o que olha para dentro acorda”

Carl Gustav Jung

  • YouTube - Black Circle
  • Facebook - Black Circle
bottom of page